Dizem que pessoas 
                  são como ondas;
                  como elas vêm, voltam levando
                  um pouco de nós e deixando um pouco de si.
                  Desmancham-se na correnteza e
                  desaparecem no infinito mar azul.
                  Busquei juntar os pedaços largados
                  entre conchas e os grãos de areia.
                  Cada um, trazia-me uma lembrança,
                  uma lágrima de saudade.
                  Meu olhar, perdido no horizonte,
                  tentava alcançar aquele porto,
                  que tanto repousei meu corpo
                  e tomei-o como leito de amor.
                  A canção que o mar trazia,
                  era a voz já perpetuada em minh'alma,
                  e dela vivia a harmonia.
                  O cheiro da maresia, a gaivota solitária,
                  toda uma recordação que doía ausente.
                  Deixei marcada na areia, as marcas
                  dos meus pés, na esperança que um dia,
                  pudesses encontrar o caminho de mim.
                  Fiquei a deriva em tempestades,
                  perdida em marés calmas...
                  Escondi-me no escuro céu, fugindo
                  da luz da lua que me buscava em vigília.
                  Estrelas que me espreitavam silenciosas,
                  enquanto fazia guarida entre as pedras
                  frias da minh'alma.
                  E eu só queria estar ali;
                  a espera que o vento trouxesse
                  notícias que eu tanto ansiava.
                  Algo que me fizesse levar os olhos
                  para além-mar e sentir que vinhas
                  carregado nas horas do oceano.
                  E o vazio azul se fazia imagem
                  em meus olhos...
                  Todos os dias, um pedaço
                  de minha esperança era atirado no mar;
                  aos poucos, sumia, com o desejo que
                  recebesses o apelo do meu coração.
                  Assim eu continuo, num sonho encubado,
                  talvez jurado, ou não, talvez apenas
                  um sonho.